terça-feira, 29 de julho de 2008

Desafio nº 1: Segurança em Santa Maria - RS



Viver com medo


Quem mora em Santa Maria sofre com a ameaça do crime. É um problema que pode ser amenizado com a ajuda do futuro prefeito
LUIZ ROESE

Depois de 16 anos morando no mesmo lugar, na zona centro-oeste de Santa Maria, uma aposentada de 59 anos não tem mais o mesmo sentimento por sua casa. Em uma tarde quente deste mês, ela estava tirando uma sesta depois do almoço, mas foi acordada por um estrondo na porta da frente. Ela deu de cara com um ladrão na sala.Dali em diante, a vida dessa vítima mudou. Ultimamente, ela só consegue dormir à base de remédios. Há dias em que não consegue lavar a louça. Tampouco pendurar a roupa para secar no varal. Em resumo, acabou a tranqüilidade. O medo passou a ser um companheiro constante.- O bandido fez terrorismo comigo. Dentro da minha própria casa. Ele ainda disse que tinha um louco do lado de fora, que tinha fugido do manicômio e era um assassino. Antes de ir embora, falou que iria voltar - conta a vítima.Da ação criminosa, foram levados um par de tênis e um video game, que era a única diversão do neto de 12 anos. Mas muito maior do que o prejuízo material, foi o sentimento de medo que ficou. Uma cerca mais alta foi colocada depois do assalto, como primeira medida. Agora, mesmo com gente em casa, todas as trancas possíveis são usadas. Outro novo hábito também foi adicionado ao dia-a-dia da aposentada:- Agora fico toda hora na janela para ver se não tem estranho rondando a casa.Na hora do assalto, ela estava com a sobrinha-neta de 4 anos, que até hoje faz comentários sobre o "tio" que quis machucar sua tia-avó. Ou seja, o sentimento de medo se estendeu ao resto da família.Assim é viver em Santa Maria. Apesar de os índices de crimalidade estarem em queda, não deixa de ser preocupante ocorrer uma média de sete assaltos por dia na cidade. Dos mais diversos tipos. Os campeões são os ataques a pedestres - foram 744 de janeiro a junho deste ano. Mas também ocorrem roubos a motoristas, a estabelecimentos comerciais, a ônibus e a moradores dentro de suas próprias casas.No caso da aposentada, o jovem que a assaltou seria viciado em crack. A droga é o principal motivo de preocupação das autoridades de segurança pública em Santa Maria. As primeiras apreensões ocorreram em 2006, mas foi a partir deste ano que esse mal se espalhou de vez por todos os cantos da cidade. Por ser barato - uma pedrinha é vendida por cerca de R$ 5 - , o crack tomou conta da periferia primeiro. Mas também já faz vítimas entre a classe média. O público de usuários é formado principalmente por crianças, isso mesmo, adolescentes e jovens.- O crack é uma droga de alta dependência. Basta usar duas vezes para ficar viciado. E, para sustentar o vício, o usuário começa com furtos domésticos e depois parte para crimes mais graves - conta o titular da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), Sandro Meinerz.Não há uma pesquisa oficial sobre o assunto, mas policiais que lidam diariamente com a criminalidade estimam que o uso de crack está ligado a pelo menos um em cada 10 casos de assaltos ou furtos que ocorrem em Santa Maria. Tudo para trocar por droga. Até maio deste ano, a Defrec já havia apreendido 250 gramas da droga na cidade, mas esse número já passou dos dois quilos. É bem mais do que os 300 gramas recolhidos no ano passado inteiro, uma amostra de que esse problema não pode ser ignorado.O começo: mais policiaisE o que um prefeito tem a ver com isso tudo? Afinal, proteger as ruas é tarefa da Brigada Militar e investigar os crimes está entre as missões da Polícia Civil, ambos órgãos ligados ao governo do Estado. Mas eles não são os únicos que podem ajudar a população a ter menos medo. Um chefe do Executivo municipal pode começar sua tarefa pela pressão política para conseguir mais policiais para a cidade. O déficit atual é calculado em 40% de pessoal para a Brigada e de 50% para a Civil.- Quanto mais o prefeito gritar por mais policiais, melhor. Só funciona assim - constata um oficial da Brigada Militar.Na opinião do delegado regional de Polícia Civil, Oscar Corrêa dos Santos Júnior, um dos principais papéis de uma prefeitura está na criação de ações preventivas, voltadas para crianças e adolescentes.- Claro que isso só vai ter resultado daqui a 10 anos - opina o delegado.E o principal foco da Secretaria Municipal de Assuntos de Segurança Pública, criada em 2005, está justamente na prevenção. A pasta já estimulou o descarte de armas de brinquedo e promove palestras em escolas, dentro do projeto Construtores da Paz, feito em conjunto com outras entidades.Parcerias, uma boa idéiaSe o crime não espera, o jeito é formar parcerias que dêem resultado nos dias atuais. Como o Grupo de Trabalho de Combate ao Abigeato (furto ou roubo de gado), que reúne Polícia Civil, Brigada Militar e órgãos municipais e estaduais. Desde o início do trabalho, em 2001, essa união de força já apreendeu mais de 50 toneladas de alimentos em situação irregular.- Todos ajudam a fiscalizar a carne clandestina, o que colabora na diminuição do abigeato - diz o delegado Sandro Meinerz.Agir em articulação com o Conselho Municipal de Segurança Pública também é um caminho. Formado por 75 entidades - entre elas, secretarias municipais - , ele é encarregado de discutir políticas que dêem mais tranqüilidade ao cidadão. Uma das primeiras tarefas do novo prefeito pode ser mobilizar o órgão, que há dois meses não consegue quórum para suas reuniões mensais. É do conselho a missão de gerenciar o Fundo Municipal de Segurança Pública, que pode investir recursos em ações preventivas.As tarefas de um prefeito na área de segurança parecem pequenas. Mas podem fazer diferença, evitando que moradores usem muros para separá-los de vilas e invasões, como nos bairros Pé de Plátano e Noal. Foram respostas diante do medo. Respostas essas que todos esperam de quem for governar Santa Maria.

Um comentário:

Unknown disse...

Achei interessante,pois nós estamos
estamos presos dentro de nossas casas enquanto muitos bandidos estão soltos,o Prof.Marco foi justo
no que ele falou,pois a nova admistração tem tomar uma atitude em relação a segurança da nossa cidade,parabéns prof.pelas suas palavras,pois nós temos medo da violência,até quando nós vamos aguentar?