quinta-feira, 17 de julho de 2008

Acidente da TAM: um ano depois


Um ano depois de acidente da TAM, parentes brigam na Justiça por indenizações.


“A maior tragédia da história da aviação neste País marcou para sempre a vida de 199 famílias. O que nos causa decepção é constatar que a própria TAM, que poderia atender acordos muito mais razoáveis, dificulta as soluções, pelo menos materiais, para essas famílias. Ela tem dificuldade de reconhecer sua responsabilidade. Essa luta ainda vai longe”, A avaliação é do advogado da Associação de Familiares e Amigos das vítimas do vôo JJ 3054 da TAM (AfavTam), Eduardo Lemos Barbosa, um ano após o acidente com o vôo JJ3054 da TAM.
Barbosa explica que até março deste ano a TAM auxiliou com passagens e hospedagem para os parentes, em maior parte do Rio Grande do Sul. “Daí em diante eles cortaram essa verba para as pessoas que entraram contra a empresa na Justiça (cerca de dois terços do total de familiares). Quem entrou em acordo com a TAM recebeu indenização. Quem entrou na Justiça ainda não”, afirma.
“As propostas da TAM têm sido, no mínimo, ofensivas. Para quem perdeu um parente, existe proposta que é mais que uma bofetada”, acrescenta Roberto Gomes, assessor voluntário da AfavTam e irmão de uma das vítimas.
A companhia aérea afirma em nota que, “embora consciente de que nada poderá compensar a perda dos entes queridos, a TAM vem se empenhando, desde o primeiro momento, em apoiar os familiares de todas as maneiras e concluir o mais rapidamente possível o procedimento da indenização”.
A empresa cita medidas como a criação de um telefone 0800 exclusivo para atendimento, a contratação de uma empresa de serviços funerários para todo o processo até a realização dos funerais, apoio ao IML na coleta de DNA, atendimento psicológico contínuo aos familiares, e concessão de 633 planos de saúde por um período de dois anos, entre outros.
Até o momento foram fechados 78 acordos de indenização com a TAM e sua seguradora, a Unibanco AIG.



10 Vítimas eram da região de Santa Maria - RS


Famílias das vítimas ainda clamam por definições sobre o que causou a maior tragédia da aviação brasileiraHá um ano, a estudante de pegagogia e professora Leila Maria Oliveira dos Santos, 35 anos, fazia sua primeira e última viagem de avião. Ela não fazia idéia de que a despedida da família em Santa Maria seria o último adeus. Leila foi uma das 10 vítimas da região que estavam no vôo JJ 3054 da TAM, que, ao se espatifar contra um prédio da própria companhia - na tentativa de pousar no Aeroporto Internacional de Congonhas, em São Paulo - , causou a morte de 199 pessoas, entre passageiros, tripulantes e pessoas que estavam no solo.A maior tragédia aérea do Brasil fez o país chorar. A mãe de Leila, Celina Lima dos Santos, 71 anos, ainda chora a perda da filha e a longa espera por respostas.- Eu tive de me mudar. Até hoje, quando passo em frente à casa onde a gente morava, choro. Não saber o que de fato causou o acidente também machuca muito. Queremos que os responsáveis sejam punidos logo - diz Celina.O trauma do acidente foi tanto que a mãe de Leila descarta viagens de avião. Familiares até pensaram em participar das homenagens às vítimas, hoje, em São Paulo, mas Celina passou mal:- Não consigo assimilar a imagem de alguém que amo entrando num avião. A sensação é de que ela não voltará mais.

Passado um ano do acidente, um inquérito sem conclusão e poucas medidas para evitar novos acidentes são motivos de inconformidade para a família do empresário santa-mariense Richard Salles Canfield, 30 anos, outra vítima da tragédia. Donos de uma agência de publicidade, da qual Richard também fazia parte, Henry, 29 anos, George, 27, e Daniel Salles Canfield, 26, mantiveram a rotina de viajar de avião, mesmo depois da morte do irmão. Porém, até hoje, não se sentem seguros nas aeronaves brasileiras. E não é apenas pelo trauma de terem vivido a tragédia do vôo JJ 3054.- Eu estava em um avião que aterrissou em Congonhas há cerca de um mês. A lembrança era muito triste, mas o pouso em si foi um horror. Os riscos continuam - avalia George.Na casa de Eliane Soares Dornelles, que morava em Porto Alegre, a terça-feira foi de tristeza. Nesse dia, ela completaria 34 anos. Os filhos, Eduarda, 5 anos, e Vinícius, 8, queriam comprar um bolo e cantar parabéns à mãe.- Eles acreditavam que, assim, a mãe voltaria para casa e, como nos outros aniversários, sopraria as velinhas - conta a irmã de Eliane, Gislaine Dornelles.

Outro ponto que ainda angustia os familiares das vítimas são as indenizações. Nenhuma das 10 famílias da região teria fechado acordo com a TAM. Algumas procuraram um escritório, nos Estados Unidos, especializado em acidentes aéreos, para entrar com uma ação na Justiça. Outras, como a de Leila e a da professora Elida Dembinski, 54 anos, nem contrataram advogado. Elas argumentam que querem, antes de mais nada, justiça.Acordos - De acordo com a assessoria de imprensa da TAM, até ontem foram feitos 79 acordos de indenização a parentes de vítimas da tragédia. Isso não quer dizer, no entanto, que esse é o número de famílias beneficiadas. É que muitas delas têm mais de um beneficiado. A câmara especial criada para fazer os acordos de quem não buscou a Justiça comum fechou 11 acordos.A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não comenta o acidente, mas ressalta que os atrasos nos vôos estão em queda, mesmo que o volume de passageiros nos aeroportos cresça a cada dia. Em julho de 2007, os atrasos acima de 60 minutos superavam 25% dos vôos. Desde fevereiro, estão abaixo de 10%. Em julho de 2007, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que os atrasos não eram o ponto principal da discussão:- Se for necessário, que se prolonguem as filas para garantir a segurança. É o preço que pagamos.



À espera de punição

Uma das pastas integrantes do inquéritoEliane e Roberto – assim como outros parentes e amigos das vítimas do vôo JJ 3054 - ainda esperam resposta da Justiça para quem são os culpados desta tragédia. O inquérito que apura as causas do acidente deve ser concluído, porém, apenas em setembro.
O laudo feito pela Diretoria da Engenharia da Aeronáutica (Direng), e divulgado nesta semana, apontou irregularidades na pista de Congonhas. A macrotextura, rugosidade que facilita o escoamento da água, deveria ter 0,5 milímetro no mínimo, segundo a norma IAC 4.302, do extinto Departamento de Aviação Civil (DAC). Tinha em média 0,35 milímetro. Com as ranhuras, aplicadas depois que o acidente ocorreu, a macrotextura subiu para 1,48 milímetro.
Os resultados do laudo se assemelham aos do documento apresentado pelo Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, que afirma que a pista não era recomendada para aterrissagens em dias chuvosos devido à falta de ranhuras. No laudo, destaca-se ainda que não houve falhas nos manetes do avião, o que poderia ter acontecido, já que um dos reversos, sistemas que ajudam na frenagem, estava travado. A conclusão oficial do laudo deve ocorrer em setembro, mas até agora três quartos do documento estão redigidos.
“Para a conclusão do inquérito falta o relatório da Cenipa, o laudo final do Instituto de Criminalística e o delegado receber o depoimento de Denise Abreu e Milton Zuanazzi (ex-diretores da ANAC). Esperamos que, em setembro, estes documentos sejam entregues e que o Ministério Público receba o inquérito e o encaminhe à Justiça. Queremos que os fatos sejam revelados. E, se houver responsáveis, que eles sejam punidos”, afirma Roberto.
Sete devem ser indiciados
O delegado Antonio Carlos Menezes Barbosa, que coordena a investigação, afirmou, com base no relatório da Polícia Civil que ainda será encaminhado ao Ministério Público, que sete pessoas devem ser indiciadas como responsáveis pelo acidente. O delegado, porém, não deu mais detalhes. Ele preferiu apenas dizer que as investigações vêm apontando negligência e imprudência como causas do acidente.

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