quinta-feira, 14 de agosto de 2008

3° Desafio: Iluminação de Santa Maria - RS



Sob a luz da lua

Dupla de estudantes enfrenta, todas as noites, ruas mal iluminadas para voltar da escola

São 21h55min de uma segunda-feira. Os estudantes Michele Isabel Alves Cavalheiro, 18 anos, e William Luis Almeida de Oliveira, 17, deixam a Escola Estadual Naura Teixeira, localizada na Rua João Franciscatto, bairro São José, onde cursam o 1º ano do Ensino Médio. É hora de voltar para casa, após o primeiro dia de aula depois das férias de inverno. Então, eles começam a percorrer um caminho de trevas até a Vila Maringá. Boa parte do trajeto é feita em meio à escuridão. Assim como os dois estudantes, outros tantos moradores dos quatro cantos de Santa Maria devem enfrentar o mesmo problema para estudar ou trabalhar à noite. Cabe ao futuro prefeito o desafio de melhorar a qualidade da iluminação pública.William e Michele enfrentam o breu logo na saída da escola. Ao entrarem na Rua Antônio Ignácio de Ávila, começa a bater o medo. Dos 24 postes espalhados em cerca de um quilômetro, só há luz em seis. À noite, a rua fica deserta. O silêncio é quebrado eventualmente.


- Quase não passa carro neste horário. Há dias que a gente fica rezando para passar um - conta Michele.Em alguns trechos da Antônio Ignácio de Ávila, é tão escuro que os estudantes se tornam dois vultos no meio da via de chão batido. Ao passarem pelo trecho cercado por um campo de um lado e mato de outro, a dupla aperta o passo.- Eu ando sempre no meio da rua quando é escuro.
Aqui não tem para onde correr - diz William, apontando para o campo.Depois de 24 minutos caminhando pelo chão batido da Antônio Inácio de Ávila, os estudantes começam a percorrer a parte de calçamento.


Eles estão em frente à Sociedade de Medicina de Santa Maria.- Aqui é o único lugar seguro - comenta William, referindo-se à boa iluminação e ao vigia do local.- Depois daqui (Sociedade de Medicina), se acontecer alguma coisa com a gente, ninguém vai saber - afirma Michele, angustiada.A estudante, que durante o dia trabalha de doméstica, refere-se ao próximo trecho a ser percorrido: escuro e sem casas por perto - a única diferença é o calçamento - até chegar à RSC-287. Nos dias de tempo fechado, William e Michele não contam nem com a companhia das estrelas.
Os dois colegas nem sempre voltam juntos. Muitas vezes, William vem sozinho. Michele vem com uma amiga e, no dia em que não tem companhia, fica em casa. Enquanto contam sobre as noites no percurso, o caminho vai encurtando. O barulho e os faróis dos carros indicam que a RSC-287 está perto. Às 22h30min, Michele e William cruzam a rodovia. Há mais de um quilômetro ainda a ser percorrido.


No começo da Estrada Eduardo Duarte, que leva à Vila Maringá, os estudantes têm uma agradável surpresa: no retorno às aulas, o trecho está bem mais iluminado. Há seis lâmpadas funcionando.- Antes, eram só duas - relembra William.Os dois seguem o caminho de casa. O único barulho é do balançar das taquareiras. E é justamente nesse ponto que dá mais pavor nos estudantes. Eles nunca tiveram problema ali, mas sabem que o lugar é perigoso e já foi cenário de assaltos, especilamente ataques a mototaxistas. O bom é que Michele e William estão mais perto de casa. Às 22h45min, os dois já caminham pela Rua A da Vila Maringá. É mais um trecho com pontos na penumbra. Na entrada da rua, há seis postes que não estão funcionado. O restante está iluminado. Logo, a angústia dos estudantes deve terminar, e a da famílias que os aguardam também.- A minha mãe fica preocupada. Eu ligo do orelhão perto da escola avisando que estou descendo - diz William.
Não há linha de ônibus para a vila
Enquanto percorrem mais uma rua da Maringá, entre trechos claros e escuros, os estudantes contam que chegaram a pensar em contratar uma van para buscá-los na Naura Teixeira. São sete estudantes da vila que freqüentam a escola à noite, e não há ônibus até a Maringá. Michele e William dobram na Rua Hilda Berleze. A via está iluminada, e a casa de William já pode ser vista. Às 22h47min, ele chega ao portão da residência, completando 2,2 quilômetros. O padrasto do estudante, Valmir Rodrigues, joga a chave pela janela. É mais uma noite de preocupação que se vai para a família de William.Já a família com quem Michele mora terá de aguardar mais um pouco. Ela ainda tem mais um pedaço de rua para caminhar. Agora, sozinha. Corajosa, atravessa um campinho em meio à escuridão para encurtar a distância. Sua casa está a alguns metros do campo. Às 23h, Michele termina o trajeto de 2,7 quilômetros, entrando no pátio da residência. Agora, o alívio é da família com quem ela mora.Uma das prioridades do futuro prefeito de Santa Maria deverá ser iluminar o caminho das Micheles, dos Willians, dos Joãos e das Marias, para que possam se sentir mais seguros ao cruzarem as ruas. Também para que os pais possam ficar menos apreensivos a cada noite que os filhos saem de casa.


Consertos são feitos por regiões


Hoje, Santa Maria tem 18.972 pontos de iluminação, nas oito regiões da cidade e nos nove distritos. Em média, o setor de iluminação pública da Secretária Municipal de Obras e Serviços Urbanos recebe 15 pedidos de conserto por dia. A Região Leste, formada pelo bairro Camobi, é uma das que mais fazem reclamações. Junto, aparece como campeã de queixas a Zona Oeste.- São regiões que têm mais pontos de luz na cidade - explica o eletrotécnico da prefeitura, Clovis Milani.A maior quantidade de pontos de luz está no Centro. Segundo Milani, porém, há menos reclamações, uma vez que as lâmpadas instaladas nessa área têm maior durabilidade. Para cada pedido de conserto que chega à Secretaria de Obras e Serviços Urbanos, é feito um protocolo, constando o dia da reivindicação. Já a data para a reclamação ser atendida é incerta.- Pode levar 10, 20 ou até 30 dias - diz o diretor de iluminação da secretaria, Valdir Schmidt.Em julho, foram recebidos 495 pedidos de consertos de luminárias. As reivindicações são guardadas em pastas da região a que pertencem. À medida que é realizada a troca de lâmpadas, os pedidos vão sendo retirados das pastas.


O diretor de iluminação diz que a prioridade é para os consertos por regiões e não de ruas isoladas com uma única lâmpada queimada, por exemplo.Boa parte do trabalho hoje, segundo Schmidt, é feita em parceria com as associações comunitárias. Os líderes comunitários fazem o levantamento das lâmpadas queimadas de seus bairros, encaminhando-o à prefeitura. A parceria serve para agilizar o conserto. Desde o começo do ano, o setor soma mais de 6,6 mil consertos. Para atender às reclamações ao longo de 2008, a prefeitura fez a compra de lâmpadas e outros equipamentos estruturais, no valor de cerca de R$ 700 mil. Só de lâmpadas, foram encomendadas 6,5 mil. No momento, de acordo com o diretor de iluminação pública, não há falta de estoque.

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